sábado, 30 de junho de 2012

Educação Ambiental Urbana (EAUrb) - uma alternativa de ensino nos grandes centros urbanos


Somente 2% da superfície do nosso planeta está ocupada pelas chamadas grandes cidades, as quais consomem 75% dos recursos naturais explorados pelo homem (Dias, 2002).


Somente 2% da superfície do nosso planeta está ocupada pelas chamadas grandes cidades, as quais consomem 75% dos recursos naturais explorados pelo homem (Dias, 2002). No Brasil, mais de 80% da população reside em cidades, segundo o último senso divulgado pelo IBGE (2001). A crescente e desordenada urbanização e suas conseqüências sobre as comunidades naturais, sempre fizeram parte das pautas de diferentes encontros internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade, como nos casos do Clube de Roma, Conferência de Estocolmo (1972), a Comissão de Brundtland (1983), a Rio 92 (1992), a Conferência Internacional sobre população e desenvolvimento e a Hábitat II (1996), dentre outras.
Apesar da urgência dos números, as cidades continuam crescendo por todo o mundo, consumindo recursos e contribuindo para uma perda sensível da qualidade ambiental, especialmente relacionada aos recursos hídricos. Dentro desse panorama, a educação e conscientização das gerações presente e futura possui um valor indiscutível no processo de mudança de atitude, criando novas alternativas aos problemas trazidos pelo nosso estilo de vida.
A educação básica, especialmente a partir dos anos 1980, passou a se preocupar mais pela questão ambiental, construindo projetos os quais, na maioria das vezes, estavam direcionados aos problemas ambientais fora das grandes cidades.
A diversidade de assuntos e enfoques atualmente dentro desses projetos é enorme, indo desde aqueles que começam e terminam dentro da própria sala de aula até aqueles que extrapolam os limites físicos das escolas. O cronograma escolar se adaptou rapidamente e passou a contar com viagens, excursões e visitas de duração variada a diferentes regiões onde ainda restam paisagens naturais. Com isso, houve uma valorização do enfoque ecossistêmico e conservacionista, o qual se tornou bastante popular dentro dos chamados projetos de Educação Ambiental ou Estudo do Meio Ambiente.
Em um plano geral, são três os objetivos gerais dos programas de Educação Ambiental ou Estudo do Meio Ambiente:
1. Aquisição de conhecimento: mostrar ao aluno de diferentes idades, aspectos importantes da dinâmica de diferentes ambientes, enfocando, de maneira bastante geral, aspectos da fauna, flora, características físicas locais e, quando possível, entrar em contato com a população local na tentativa de despertar o interesse por diferentes hábitos, culturas e tradições.
2. Sensibilização: utilizando-se de argumentos baseados em fatos científicos ou não, a tentativa de sensibilização do aluno quanto à importância da preservação dos ambientes naturais é um ponto comum e importante em todo projeto. Não há, entretanto, nenhum vínculo entre a destruição das paisagens naturais e nossa sobrevivência nos centros urbanos, bem como não há conexão entre a preservação da natureza e nossa estrita dependência de recursos.
3.Integração: fazer com que aluno sinta-se parte do grupo a que atualmente pertence, através de atividades lúdicas e acadêmicas em grupo.
A possibilidade de poder participar ativamente do processo de elaboração de projetos de Educação Ambiental, me fez notar que a eficiência dos mesmos, como o descrito acima, foi muito mais baixa do que gostaria, no sentido de incorporação de novos conceitos e mudança de atitudes.
Pensando nisso, notei que pontos importantes contribuíram para a ineficiência dos projetos desenvolvidos. Um deles é a enorme distância entre a realidade ambiental do aluno dos centros urbanos e a realidade ambiental dos locais onde se realizaram os projetos de Educação Ambiental. Há uma grande desvinculação entre o que se aborda nos trabalhos e o que o aluno vive no dia-a-dia. O contato dos alunos com ambientes naturais, mesmo praias ou fazendas, é bastante esporádico, afastando-o ainda mais dessa realidade. Outro ponto relevante é a duração desses projetos, muito restrita devido ao calendário escolar.
Projetos que explorem fatos do cotidiano dos aluno e que possam ser desenvolvidos mais lenta e profundamente ao longo do ano letivo, e não aos trancos e barrancos em dois ou três dias, levam uma grande vantagem no processo de formação do aluno. Dentro dessa idéia, o uso da cidade como laboratório e campo de trabalho facilita o desenvolvimento de estudos de duração e enfoques variados, desde o local, dentro do colégio, até o global, abordando, por exemplo, reconstituição ambiental, paisagismo, organização física dos centros urbanos e suas conseqüências, etc; procurando fugir um pouco de temas comumente associados aos centros urbanos como poluição, lixo, coleta seletiva, reciclagem, dentre outros.
A ampliação da visão do aluno de sua própria realidade ambiental e como ele pode interferir crítica e responsavelmente sobre ela deve ser o pilar central dos projetos em Educação Ambiental Urbana (EAUrb). A mudança de enfoque confere um novo valor à experiência, sendo que o processo de sensibilização ocorre diariamente e não momentaneamente.Além disso, a possibilidade de dar continuidade ao trabalho dentro da sala de aula propicia um maior aprofundamento e uma avaliação mais justa e completa do aluno ou do grupo de trabalho.
Por poder possuir uma duração maior, os projetos em EAUrb podem possibilitar uma mudança significativa de atitude e pensamento, fazendo o aluno observar criticamente, fazer perguntas, coletar informações, trabalhar e organizar essas informações utilizando-se de diversas linguagens e, acima de tudo, propor soluções viáveis para diferentes problemas.
Trabalhar dentro de um esquema que envolva observação – questionamento – coleta de dados – análise – desdobramentos – criação de soluções, é uma maneira eficiente de se escapar das apostilas que direcionam os pensamentos e ações individuais. Trabalhar sem estabelecer conceitos prévios é também um desafio para o professor, fazendo que esse passe a ser apenas um intermediário fundamental no processo de formação ambiental de seus alunos, o que muda também sua rotina e modo de trabalho, tornando sua atuação mais prazerosa e gratificante.
Não pretendo, com tudo isso, desprestigiar os estudos do meio ambiente e interpretação da natureza. Porém, acredito que o enfoque e o modo de trabalho devam ser revistos e adaptados, fazendo com que o aluno construa seu próprio conhecimento, não se limitando ao que já foi produzido.
O despertar da consciência conservacionista pode percorrer caminhos bem mais curtos do que os atuais. O sucesso tão almejado da mudança de mentalidade e de preparação dos futuros cidadãos do mundo, ponto alto do processo educacional, pode estar mais próximo que imaginamos, literalmente.

Edson A. C. Grandisoli *Mestre em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Aquáticos pela USP. *Professor de Ensino Médio dos Colégios Bandeirantes & Vera Cruz. *Consultor pedagógico da Escola da Amazônia.